Diferente da maioria dos lares mundo a fora, não houve imposição de religião na minha casa quando eu era criança. Geralmente, a criança segue a religião dos pais durante toda sua vida ou converte-se para outra na idade adulta. Lá em casa, Papai e Mamãe, católicos não praticantes, digo, que não vão à igreja, mas vivem os preceitos cristãos como poucos que conheço, optaram por fazer diferente. Eu e minhas irmãs não fomos nem batizados com o intuito de podermos escolher, caso quiséssemos, a nossa religião por conta própria e livremente.
Estudei em escola cristã e fui muito feliz lá! Frequentei todas as aulas de religião, inclusive a preparação para a primeira comunhão, mas segui “pagão”. Naquela época, olhando para trás, confesso que teve um pouquinho de revolta juvenil, de ser diferente, de não querer seguir a boiada, mas principalmente, por não entender em nada os motivos daqueles rituais. Aqui, as religiões costumam pecar. Impor “verdades” pouco convincentes, não palpáveis e de maneira chata, geralmente afastam os jovens. O jovem quer descobrir o mundo e se descobrir, sentir novas emoções, novas sensações, viver coisas novas, mas a essência das religiões é justamente o contrário: as restrições. Aos 48 anos, enxergo as restrições como peças fundamentais no desenvolvimento pessoal, fazer aquilo que é necessário e não somente o que queremos. Entretanto, um jovem, geralmente é imaturo demais para aprender a "educar suas vontades", como brilhantemente colocou Jules Payot (recomendo demais a leitura - A Educação da Vontade). A ordem natural é experimentar o mundo primeiro, depois, ir se conhecendo.
Não sou contra nenhuma religião, desde que não deseje ou pratique o mal ao próximo. Durante toda a história, ela foi utilizada para justificar guerras, barbáries, perseguições e manutenção do poder. A religião utilizada desta forma, por líderes frágeis ao tempo e, absolutamente, imaturos, irão desaparecer ou se adequar à nova realidade da humanidade. Esta é uma das principais justificativas para o ceticismo religioso de muitas pessoas.
Atualmente, enxergo a religião como uma excelente ferramenta de auto-conhecimento para muita gente, diria fundamental, inclusive. As religiões são maneiras muito efetivas de transmitir algumas verdades universais aos mais jovens e àqueles que a procuram. Tais verdades são simples, mas não são fáceis de se executar. Caso uma pessoa opte por seguir qualquer religião com disciplina, a chance de se sair bem aqui na Terra aumenta vertiginosamente. Repare que a essência da maioria das religiões é a mesma! O auto-conhecimento envolvendo o saber lidar com o próximo, com suas emoções e sentimentos, permeia quase todas elas. Aprender a fazer o que é necessário, independente da vontade, é uma premissa da pessoa adulta, responsável e produtiva.
Sobre a fé, acredito demais nela! A fé seria uma habilidade não técnica que descrevemos no livro "As Sutilezas da Medicina" compatível com a "Atitude Positiva". As pessoas com fé são mais leves, sentem a dor, mas são gratas pelo aprendizado proporcionado e sofrem menos. Os problemas ensinam mais do que fazem sofrer, eles têm um propósito. Ressignificam o sofrimento e encaram a vida de maneira mais serena, logo, feliz. Pensar positivamente não é se preocupar com o destino e sim, com o caminho! Em Medicina, não é sobre cura, mas sobre fazer os momentos restantes valerem a pena, independente da quantidade. Resiliência para lutar por um resultado e entender que nem sempre ele irá acontecer. Ainda sobre a fé, acredito que ela também precisa andar ao lado da ação. Ela sozinha é bem frágil.
Finalizando, acredito que tudo, sem exceção, possui uma explicação racional, física ou metafísica, mas a maioria delas ainda são inexplicáveis pelo nosso conhecimento atual, é aqui que entra a religiosidade. Segundo Ayn Rand, a religião preenche o espaço da nossa ignorância ao tentar explicar as coisas do mundo que nossa razão ainda é incapaz. Infecções já foram castigo dos Deuses, sacrifícios comuns, voar um sonho, não ir a igreja um pecado. Tudo no seu tempo, sem pressa, vai se desenvolvendo, evoluindo…inclusive nosso conhecimento das coisas. Religião é um meio, não o fim. Esteja aberto para conhecê-las e escolha a que se mostre melhor para você ou até mesmo, não escolha nenhuma, está tudo bem! Sigo pagão, mas cumpro religiosamente a maioria dos preceitos das religiões da Terra! Não julgo ninguém, valorizo minha família, sou religiosamente disciplinado e tento não encher o saco de ninguém.
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Excelente, Brenão! Compartilho da mesma visão. Abs,
Faz todo sentido! Ótimo texto.