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Foto do escritorBreno Gomes

Gestão em Saúde: Amadorismo Angustiante

Acabou a era do amadorismo em saúde. As instituições que não enxergarem ou que fizerem vista grossa para esta realidade estarão fadadas ao fracasso. Gestão está na moda e receitas de bolo são vendidas a um custo altíssimo. Acreditações, protocolos, indicadores e “photoshop” tornaram-se comuns. A essência e o “core-business” individual de cada instituição se perdem nesta falta de identidade institucional. Consultorias são importantes para se promover a arrancada, assim como as acreditações, entretanto, para crescer, a instituição precisa caminhar com as próprias pernas. Chegou a hora de fazer gestão de verdade!

         

Relações profissionais de profundo amadorismo e frágeis em instituições altamente complexas. Não existe sincronia de interesses. Objetivos são de curtíssimo prazo e sem uma linha de continuidade. Os erros se repetem pela total falta de organização e comando linear. Interesses pessoais, ou de um grupo, se sobrepõem aos institucionais. A política, no final, justifica tudo. O comodismo e a recorrente frase: “aqui sempre foi assim” são características comuns. O crescimento alheio incomoda ao invés de orgulhar e agregar. As preocupações com os ganhos do próximo impedem o crescimento de alguns que, certamente, fracassarão no longo prazo.

           

Em meio a esta batalha, eis que encontramos o pobre gestor em saúde (não me refiro aos diretores). As idéias são muitas, a autonomia minguada, o trabalho sempre dobrado, o reconhecimento  minimizado, a rotatividade de técnico de futebol brasileiro e o tesão quase sempre apagado pela falta de objetivos claros e de visão dos diretores da instituição.

           

Dentre os gestores temos os próprios médicos, os enfermeiros e os não relacionados a área de saúde. Não me atrevo a dizer qual seria o melhor perfil, mas uma mistura de gestor profissional, não relacionado a saúde, com médico ou enfermeiro, assim como na Mayo Clinic, por exemplo, parece ser o mais sensato. Algumas instituições brasileiras felizmente já estão enxergando este caminho. Diferentes visões com um mesmo objetivo já são uma realidade, rara, mas existente no nosso meio.

           

O enfermeiro, geralmente, é funcionário da instituição, logo, teoricamente, joga junto com os gestores, quando não o são. Não acho que seja a melhor situação, de maneira nenhuma, como já me posicionei na postagem: “Cadê a Enfermeira?”. Acho que a maioria dos enfermeiros sofre com esse acúmulo de funções burocráticas que tornaram-se inerentes a eles, por falta de opção e por necessidade imposta. Hoje, não existe a distinção entre enfermeiro e gestor, o que é, na minha opinião, um “erro crasso”. Existem gestores excepcionais que são enfermeiros, não gostam (e isso é opção pessoal) da assistência direta ao paciente. Eles são fundamentais para a instituição. Definindo a posição não existe problema. O que é inadmissível é um enfermeiro assistencial ser cobrado apenas pela gestão e não pela qualidade da assistência em si e, o pior, sem receber nada mais por isso. Isto é uma rotina absurda no nosso meio, uma completa indefinição de valores.

       

Situação igualmente aflitiva ocorre com vários médicos gestores. Na teoria, uma combinação perfeita por conhecer as duas posições. Infelizmente, uma parece apagar a visão da outra. Antes, critica o sistema,  mas, após assumir um cargo relacionado a gestão, acaba mudando seu ponto de vista. A falta de preparo e o desafio assumido apenas pela confiança, e não pela competência, fragiliza o gestor médico na maioria das vezes.

           

Bakunin, anarquista e teórico político russo do século XIX, dizia que aquele que assume uma posição política superior, além de mudar de status, também muda o ponto de vista. Passa a enxergar a situação de um novo ângulo, muito diferente das suas convicções “proletárias”. Poucos são os mal intencionados, a maioria, são meramente humanos.

         

Sobra o coitado do gestor não relacionado a área da saúde pelejando com os médicos. “Eles não ajudam, não estão preocupados com as melhorias, não coletam dados…” Por que? O médico não está ganhando “nada” com isso. O hospital acreditado, por exemplo, passa a ter um ganho maior nos repasses, enquanto os médicos… Poucos são os hospitais que ajudam os médicos nas suas reivindicações diante dos planos de saúde, por exemplo. Sendo assim, os médicos não se empenham em nada para melhorar a instituição, pois não conseguem enxergar, ou não lhe mostram o real retorno.

         

Gestores brilhantes conseguem equilibrar os pontos de vista, da sala da diretoria ao “chão da fábrica”. Gestores acima da média conseguem selecionar pessoas diferenciadas que enxergam o que eles não vêem. Gestores comuns delegam funções a pessoas comuns. Gestores medíocres não enxergam o foco principal da instituição e conhecem apenas as fórmulas de soma e subtração.

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Divagando em Saúde

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